English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

O grande salto na cachoeira

Era de tarde, a Cachoeirinha ficava logo abaixo do poço do Matadouro, férias da escola, todo mundo ia nadar, pescar, caçar passarinho de estilingue, vadiar, catar frutas. A cachoeirinha era uma queda d’água imensa para nós e pouquíssimos tinham a coragem de pular no poço de cima da piçarra lisa, esverdeada de lodo e musgos. Um dia, o menino moreninho, baixo e gordo, anunciou que ia pular. Subiu pelado na laje da piçarra deu aquele grito do Tarzan, virou uma pirueta no ar e caiu de cabeça n’agua espadanando espuma.
Logo apareceram os cabelos pixains escorrendo água e o rosto ensangüentado do choque com as pedras do fundo. O sangue escorria do nariz e corria água abaixo, num filete assustador.
Correria e muito choro naquele silêncio entrecortado por um canto triste de juritis no pasto. O menino acordou do choque, limpou o filete de sangue com as costas dos braços, espirrou água e começou a chorar. Esfregou a camisa encardida no ferimento, levantou, colocou as calças curtas e, glorioso, sorria o sorriso dos heróis e mocinhos que a gente via nos cinemas. Fomos embora em fila de procissão, silenciosos, ainda assustados e morrendo de medo. Morreu afogado anos depois quando trabalhava na limpeza de um rio longe de casa. Ficou na lembrança de todos e nunca mais ninguém pulou da laje.

Juvenil de Souza não sabe nadar
até hoje. E nem pretende aprender
.


Próxima crônica
Voltar à página anterior