O estilingue era feito com uma forquilha de jabuticabeira, duas tiras de elástico e um courinho tirado de sapatões abandonados. As pedras eram catadas na rua escolhidas cuidadosamente porque não podiam ser nem muito grandes nem muito pequenas.O pessoal tentava matar andorinhas que pousavam sobre os fios de manhãzinha, dóceis e mansas. De vez em quando alguém atingia os telhados das casas próximas e levava um pito. Mas num dia fatal, acertamos mortalmente uma rolinha na jabuticabeira. Com as mãos tremendo pegamos o pássaro na mão - tinha os olhos tristes e o coraçãozinho ainda batia fracamente entre as penas fofas e macias. Foi o olhar mais triste e pesaroso que já vimos, como que perguntando: Por que? Uma lágrima furtiva tentava sair dos nossos olhos, mas conseguimos suportar a dor que tomava o nosso coração de moleque. O estilingue ficou no meio do mato, as pedras no chão e, emocionados como nunca, enterramos o pobre passarinho ali mesmo.
O remorso dói até hoje. Pobres passarinhos, não tinham culpa de nada.
Juvenil de Souza, caçador
frustrado, vive caçando inatingíveis corações.
Próxima Crônica
Voltar à página anterior