English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Chupar manga

Tinha muitos tipos de manga: comum, de cabelos lisos e fácil de encontrar; coquinho, mais fácil ainda; sabina, difícil e enigmática; manteiga, que se derretia bobamente; bourbon, metida e aristocrática e aquelas inesquecíveis - as foguinhas, avermelhadas e inacessíveis, bem no ultimo galho. No final do verão, a derradeira manga foguinho ficava pendurada esperando a próxima chuva e o vento para cair e se oferecer, madura, arisca e apetitosa, sem pudor e sem malícia, para o primeiro que a encontrasse.
Com ela nas mãos, era passear os dedos na textura da casca, avermelhada pelo sol de possíveis praias distantes e vinha a vontade de saborear os prazeres oferecidos pelo lado de dentro, escondido. Era um tempão demorado para desvestir a casca com os dedos e unhas e retirar, sem pressa, tira a tira, sentir aquela macieza latejante e lamber de leve o agridoce da fruta presa nos dedos melados e lambuzados.
Os fiapos se enroscavam na língua, nos dentes e no céu da boca. Era o êxtase supremo de saborear a fruta com todos os sentidos e pecados - gula, luxúria e outros inominados.
Era a ultima manga do ano, esfiapada e gosmenta, desfrutada num gozo gostoso
que ficou grudado na lembrança do verão que começava a acabar.

No verão que vem tem mais, a
gente espera. Se o mundo não acabar.



Próxima crônica
Página Inicial