English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Carta aos rancheiros

O dia mais tristonho da nossa vida
foi quando vimos os velhos cacos caídos
no chão onde era nosso querido rancho
ao lado do pé de ingá. Para construir o
rancho um era pedreiro, outro era carpinteiro,
outro era ajudante. Ali teve de
tudo, catira, dança, peixadas, bebedeiras,
churrascos e cantorias. João gostava de
cozinhar, Antônio de limpar o chão, José
pescava de vara, Luís cuidava das árvores,
Mário cuidava “dos lampião”, Joaquim
dava comida aos passarinhos e tinha
uns que não faziam nada. Onde está
o fogão de lenha, o alpendre de onde a
gente via o rio correr manso, aquele pé
de arranha-gato, o jatobazeiro, o timburi
frondoso, as frutas que plantamos, o trilho
que dava no rio onde fizemos uma
ceva caprichada e pescávamos de vara os
lambaris ariscos e as piabas reluzentes?
Nada restou daquela alegria. Que tristeza
companheiros... Acabou o rancho,
acabou o peixe, acabou o rio, acabou a
Piracema, tudo por causa da ganância
dos homens. Só resta agora ficar nos bares
bebendo e lembrando daqueles tempos
felizes que não voltam mais. E sem rancho para se divertir, passaram a
freqüentar os bares, a beber caipirinha e
cervejas, brigar com as mulheres e jogar
nos caça - níqueis, talvez sonhando com
um grande peixe saltando de dentro daquela
máquina sem graça e sem emoção
nenhuma.
Juvenil de Souza não pesca,
não caça, não sabe contar piada e
nunca foi a nenhum rancho. Detesta
mosquitos, pernilongos e aquele
silêncio incômodo da beira-de-rio.

Do seu amigo e companheiro
Juvenil de Souza.