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Carne 7 e outras carnes

A mãe mandava a gente ir comprar Carne 7 no açougue do Alonso. Era uma carne com um osso serrado igualzinho ao número 7. O açougueiro amarrava a carne com um barbante que era enfiado
com uma agulha daquelas de costurar saco e a gente levava para casa pendurada nos dedos, que chegavam a arder com o peso. Os cachorros da rua acompanhavam, línguas de fora, sarnentos e esfomeados, sonhando um naco da carne.
Na caminhada, a passagem pela casa daquela menina que ficava sentada à janela, sonhadora e com as mãos finas no queixo, olhando vagamente para a rua de terra e sem calçadas, como quem estivesse longe, os olhos vivos e azuis imensos.
Olhávamos para a janela, a carne 7 doendo nos dedos e a carne doendo no coração desejoso de carinhos e beijos da menina fatal. Mas, para nossa eterna decepção, ela nunca olhava, ficava ali, musa de coração frio e longínquo, olhos refletindo nuvens esparsas no céu límpido de maio friorento. Era uma visão que desaparecia assim que descíamos a esquina, sonhando beijos como o cão sarnento sonhando abocanhar um naco da carne 7 que a gente levava nos dedos ardendo e a carne do coração doendo lá dentro como sempre, até hoje.

Juvenil de Souza detesta carne,
mas não é vegetariano. O tipo de
carne da qual gosta é outro.



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