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Saudades de minha terra

Minha terra não existe mais - não tem
rua de cima nem rua de baixo, a rua do Sapo acabou, a rua da Pinga tem vergonha do nome, a rua da estação sumiu, a curva dos João dos Passos endireitou, a estação do trem resiste sem o trem e sem a linha.
Os córregos perderam o nome. Cadê o poço do Matadouro, o córrego do Sobradinho, pedra Escorregosa e os outros? Minha terra não tem mais criança no jardim e os nomes das ruas são desconhecidos. Era rua onde morava João, rua do Pedro, rua do Antônio, rua da Maria Baiana, Beco da Iaiá.
Não tem mais baile no clube de tábuas furadas, bolero apaixonante, não tem quermesse, correio-elegante, flertes no jardim, namoro de mão na mão. Acabou o cinema e a matinê dos domingos, os seriados de sábado á noite. Namoricos, troca de gibi na fila, coleção de figurinhas, jogo de bafo nas calçadas, futebol aos domingos de tardes fagueiras.
De noite não tem mais galos, grilos, besouros, sapos, aleluias nos postes, serenatas ao luar para janelas entreabertas na escuridão. Não tem bolinha de vidro, “balança caixão, balança você, dá um tapa na bunda e vai se escondê“. Os colegas de escola desapareceram na esquina do tempo.
Cadê as mocinhas da fazenda Amália, da Fazendinha e das outras colônias? Cadê aquela namorada impossível que morava na casa de janelas fechadas? Nossa cidade tinha rua de baixo, rua de cima e hoje não tem mais. Restam apenas essas lembranças e esta rosa cujo espinho machuca nossos corações.

Juvenil de Souza não lamenta o tempo que passou. Lamenta o progresso que destruiu as coisas belas que não voltam mais.


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