
Um tinha namorada que vinha a pé da Colônia Baixa, olhos verdes, cabelos compridos, baixinha, cheia de rouge nas bochechas, alegre e feliz e que sonhava um dia conhecer o bosque de Ribeirão Preto para ver um leão de perto. Nunca foi. Ou a outra namorada do amigo já bêbado que o esperava na esquina do sobrado para conversar, brigar e amar.
Naquele tempo, ninguém se queixava da chuva e nem do frio que fazia. Dentro do bar, o “turco” Zé Malim, cabelos lisos e brilhantes, fazia baurus de sabor e cheiro inesquecíveis. A rua era escura, tinha um poste de ferro bem em frente ao bar, onde muitos se encostavam, guarda chuva em guarda aguardando a chegada da namorada que nunca chegava. Na frente do balcão do bar tinha sacos e sacos de cerveja encostados na parede com as garrafas protegidas com palha de arroz. Era ali que o doutor Zé Rocha encantoava algum incauto e dava lições de moral, de música, de gentileza e de muita amizade, sem parar de falar.
E quando chovia, a noite demorava em acabar, o Zé Malim ligava a vitrola e aí vinham as músicas tristes e doces do Orlando Silva. Nosso coração se lembra e chora de lembrar, porque foi um tempo que não volta mais. O que volta sempre é a chuva fria que cai lá fora e a gente têm que ir comprar pão na padaria e não temos galochas para enfrentar a água nas ruas e sarjetas desta cidade suja e feia onde moramos já faz tempo.
Juvenil de Souza esquece tudo que não interessa.
Próximo texto
Página anterior
Nenhum comentário:
Postar um comentário